segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Religiosas de clausura resistem à falsa modernização e crescem no Brasil e no mundo

Carmelitas Descalças, Curitiba
Enquanto a crise moral devasta as fileiras do clero “modernizado” no período pós-conciliar, os conventos de clausura femininos rigoristas e não “modernizados” conhecem uma expansão histórica, registrou reportagem da “Folha de S.Paulo”.

Desde o século XVIII – quando a Igreja Católica tinha enorme projeção social no Brasil – nunca a Ordem das Carmelitas Descalças teve tantas mulheres “atrás das grades” como agora.


Profissão de uma religiosa
Vítima do Sagrado Coração de Jesus, França.
A comparação pode parecer forçada considerando-se a diferença entre a população brasileira dos séculos XVIII e XXI.

Mas logo a reportagem emenda a visualização, apresentando dados incontroversos.

As Carmelitas Descalças, por exemplo, uma das maiores ordens religiosas femininas do país, reuniam 700 religiosas há dez anos. Hoje, felizmente, elas são cerca de mil.

As Clarissas, que em 1955 reuniam 59 monjas e possuíam três casas, hoje contam com cerca de 300 religiosas em 30 mosteiros.

Também as Passionistas, as Concepcionistas, as Visitandinas, as Trapistas e as Adoradoras estão entre as poucas ordens nas quais as freiras vivem a forma mais radical de isolamento: a chamada clausura papal ou de vida contemplativa, escreve o jornal.

Criam-se ainda hoje novos mosteiros femininos, como o das Adoradoras perpétuas em 2009, e o das Trapistas em 2010.

O fenômeno não é exclusivo do Brasil.

Beneditinas da França no dia da profissão dos votos
Beneditinas da França no dia da profissão dos votos
Um pouco por toda parte no mundo católico, as ordens religiosas que conservaram a observância à Regra dos fundadores, seus usos e costumes, hábitos e práticas tradicionais, observância, submissão à superiora, cântico das Horas, vida de piedade, sacrifício e penitência sincera, resistiram melhor ao vagalhão de modernização e decadência que danificou outros institutos.

No convento carmelita de Franca, diz a Folha, os olhos verdes de Laura, 27, brilham, e o rosto se abre em um largo sorriso ao relembrar seus 12 anos, quando viu pela primeira vez aquelas mulheres através de grades.

“O primeiro impacto foi sentir a alegria delas atrás de uma grade”, diz. “Decidi que queria viver também aquela mesma alegria”.

Aos 15, chegou a pedir ao bispo autorização para se juntar a elas antes do tempo, mas só aos 18 entrou em um mosteiro em Franca.

Carmelitas de Franca, SP
Carmelitas de Franca, SP
Em pleno século 21, Laura e outras monjas enclausuradas são parte de uma realidade cada vez mais crescente no País. Elas vivem em uma cela, atrás das grades, longe de parentes e amigos, sem acesso a TV e jornal.

“As grades não são para elas não saírem, mas sim para ninguém entrar”, diz frei Geraldo Afonso de Santa Teresinha, 52, carmelita.

Elas assistem isoladas pela grade até à Missa. Há ainda o locutório, sala onde as pessoas, por uma tela, podem pedir orações às monjas.

Sair do mosteiro só em caso extremo, para ir ao médico ou ver os pais, quando estão muito doentes.

“O mundo oferece muito, mas coisas passageiras. A clausura oferece algo duradouro, que preenche o vazio”, disse à “Folha” sóror Maria Lúcia de Jesus, das irmãs visitandinas.

Infelizmente, as religiosas de apostolado externo não vivem a mesma época de fervor, constatou também a “Folha”.

Carmelitas de Franca, SP
Carmelitas de Franca, SP
Nos últimos 20 anos, caiu em 10% o número de freiras no Brasil, diz o padre José Oscar Beozzo, pesquisador e ex-presidente do Cehila, órgão voltado ao estudo da Igreja Católica na América Latina e Caribe.

Houve uma redução de novas religiosas, principalmente entre as ligadas a congregações que atuam em escolas e hospitais.

Em 1990, havia 37,3 mil freiras no Brasil. Em 2010, o número caiu para 33 mil.

Para a presidente da CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil), irmã Márian Ambrosio, entre as razões está a diminuição do número de filhos nas famílias. “Entre as que eram numerosas, havia um incentivo [aos filhos] à vida religiosa”, afirma ela.

Segundo esse argumento, também deveriam estar diminuindo as monjas de clausura, mas o que se dá é exatamente o contrário.

O padre Beozzo tentou explicar que, com a modernidade, a possibilidade de a mulher se tornar enfermeira, por exemplo, sem necessariamente ser uma religiosa, influenciou na diminuição do número de freiras.

Irmãs da Caridade em Paris. Quando não se apresentavam
como “enfermeiras” atraiam muitas vocações
Ainda assim, o argumento não explica o aumento das religiosas observantes de clausura.

Porém, o sacerdote acena para um fator importante: a “modernização” das religiosas de vida ativa no período pós-conciliar as foi assemelhando a simples enfermeiras.

Os hábitos tradicionais foram supressos e os novos parecem mesmo roupas de enfermeiras, se e quando usam hábito.

A sacralidade da religiosa ficou sem visibilidade com a mudança. Caiu a respeitabilidade devida à esposa de Jesus Cristo, cujo compromisso místico religioso se patenteava nos hábitos tradicionais.

Mas não foi só a aparência.

Junto com os hábitos, mudaram a disciplina, as práticas religiosas, o seguimento da Cruz que se testemunha com a doação aos outros; esfriou a caridade, mirrou a unção sobrenatural comunicada nas obras, e o imponderável divino afastou-se das “enfermeiras”.



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