quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mosteiro cisterciense do século XII renasce na Califórnia

Abadia de New Clairvaux, Califórnia
Abadia de New Clairvaux, Califórnia
No norte da Califórnia renasceu um mosteiro medieval cisterciense.

A notícia caiu como um raio em céu sereno, pois nunca se diria que o progressista estado californiano acolheria um dos símbolos mais opostos à modernidade.

Além do mais, trata-se de um autêntico mosteiro medieval espanhol do século XII.

Como?

O magnata William Randolph Hearst havia comprado e levado para a Califórnia no início do século XX as ruínas do mosteiro de Santa Maria de Óvila, da Espanha, desmontou-o, mas não conseguiu restaurá-lo.







A cidade de San Francisco se opôs e as pedras ficaram por décadas no Golden Gate Park. Veio depois a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e pareceu que o projeto estava totalmente morto, segundo o “The New York Times”.

Sinal dos tempos, monges cistercienses apelaram à população, reuniram fundos e realizaram no século XXI o que foi impossível no século XX: a reconstrução do prédio gótico de Santa Maria de Óvila, do século XII.

Abadia de New Clairvaux, Califórnia
Abadia de New Clairvaux, Califórnia
“O que parecia morto, ou quase morto, ergue-se de novo”, disse sobre a restauração o padre Paul Mark Schwan, abade do mosteiro restaurado com o nome de New Clairvaux,

Após a conclusão de grande parte das obras, a abadia foi aberta à visitação pública em 2012.

Dois terços das pedras são originais, mas foram necessários reforços modernos para resistir aos terremotos. Rodeada de vinhedos, a abadia fica num campo distante duas horas do norte de Sacramento.

O mosteiro de Santa Maria de Óvila, na província de Guadalajara, foi fundado em 1167 pelo rei Afonso VIII de Castela em terras recuperadas dos mouros.

A abadia entrou em decadência e foi fechada por um governo anticlerical em 1835.

O magnata Hearst ouviu falar das ruínas e, segundo a revista “American Heritage”, contratou agricultores e trabalhadores espanhóis dos vilarejos próximos para desmontar e transportar as peças mais importantes.

Foi necessário construir trilhos de trem, estradas e uma ponte para mover as imensas pedras que foram carregadas por 11 barcos até San Francisco.

Porém, Hearst passou a enfrentar dificuldades econômicas e abandonou o projeto, doando as pedras do mosteiro à cidade de San Francisco.

Mas os planos da prefeitura dessa cidade não deram em nada; os caixotes que continham as pedras pegaram fogo algumas vezes e as relíquias ficaram ao relento. A prefeitura nunca levantou o dinheiro necessário para concluir o projeto.

Abadia de New Clairvaux, Califórnia
Abadia de New Clairvaux, Califórnia
Em 1994, alguns monges cistercienses convenceram a prefeitura a doar-lhes as pedras, sob a condição de iniciarem a restauração dentro de uma década.

Tendo os monges arrecadado US$ 7 milhões, os trabalhos tiveram início em 2004. Para reatar com um costume medieval, os religiosos também passaram a produzir cerveja premium estilo trapista, chamada Óvila. Na Europa as cervejas produzidas pelas abadias estão entre as melhores.

As obras ainda não foram completadas, mas a arte principal da abadia já pode ser usada como na Idade Média.

Vendo a decadência do século XIX, quem teria dito que o sacral e austero mosteiro dos cistercienses renasceria para a vida no século XXI? E logo na Califórnia!?

Isto é matéria para sérias reflexões para interpretar bem o presente e o futuro mais ou menos próximo.


5 comentários:

  1. Que matéria feliz, cheia de esperança, neste tempo de desesperanças diárias; a reconstrução, tão cheia de aventuras, da Abadia de New Clairvaux está trazendo uma nova luz e coragem para os monges cistercienses.
    São Bento e Santa Escolástica, rogai por todos nós!!

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  2. Prezado Luís Dufur, há algumas semanas atrás eu criei um blog para divulgar notícias sobre a vida monástica. Convido-lhe a visitar meu blog, e também os seus leitores. O endereço é http://noticiasdavidamonastica.wordpress.com/
    Gostei imensamente desse artigo. Gostaria de sua permissão para divulgá-lo em meu referido blog.
    Em Cristo, nossa esperança,
    Alex

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    1. Prezado Alex,
      Sem dúvida pode reproduzir tudo, pondo um link para o post fonte.
      Atenciosamente

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    2. Muito obrigado, Luís! Porei um link sim. Será um prazer divulgar seu blog, qual sigo pessoalmente.

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  3. Talvez alguns leitores, não sei, poderão não saber pesar devidamente o extraordinário desse fato! Aqui no Brasil, a vida monástica não se propagou muito. Foram mais as Ordens Mendicantes, como os Franciscanos. No entanto, a vida monástica também tem o seu papel na Igreja, e, eu, particularmente, vejo com grande alegria esse reflorescimento, pois acredito que a vida monástica, a oração dos monges e monja dão um vigor novo ou especial à Igreja. Santa Teresinha do Menino Jesus sintetizava a vocação monástica como sendo o amor, como sendo o coração da Igreja. Talvez seja um exagero, pois todas as vocações são importantes, mas não deixa de ter a sua verdade. A esse propósito, gostaria de partilhar um vídeo, um pequeno vídeo que mostra um pouco da vida dos monges cistercienses em um mosteiro na Venezuela.
    El Silencio Cisterciense
    Cortometraje Documental del Monasterio Nuestra Señora de los Andes (Mérida-Venezuela). Dirección y producción: Dirwin Sánchez
    http://youtu.be/dQE9pvZ8mEg

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