terça-feira, 2 de maio de 2023

Tradição familiar das gôndolas
subsiste com orgulho em Veneza

Cada góndola é feita à medida do gondoleiro
Cada góndola é feita à medida do gondoleiro
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






As gôndolas negras deslizam pelos canais de Veneza ostentando os sinais de um pequeno, mas requintado grupo de artesãos que mantêm vivos os métodos tradicionais de construção, informou a “Folha de S.Paulo”.

Cerca de 700 anos atrás, existiam 7.000 delas em Veneza, mas seu uso cotidiano foi suplantado pelo de barcos mais modernos. Restam 433, primordialmente turísticas.

O construtor de gôndolas Roberto Tramontin explica que uma gôndola demora dois meses para ser construída, leva 280 peças de madeiras diversas, como limoeiro, carvalho, mogno, nogueira, cerejeira, abeto, lárix e olmo, e custa cerca de € 38 mil (R$ 123 mil).

A madeira é tratada durante até um ano antes de ser modelada na forma cilíndrica ligeiramente assimétrica, o que permite a um único gondoleiro conduzir a embarcação em linha reta.

Os construtores de gôndolas praticam durante vários anos, antes de começar a construí-las sob medida para o peso do gondoleiro.

Quem viajou de gôndola terá observado que ela é torta, em geral enviesada para um lado. Mas quando o gondoleiro ocupa seu lugar, ela fica perfeitamente equilibrada.

Acresce-se que o gondoleiro rema de um só lado: o direito. Isso faria a gôndola girar em torno de si. O viés à esquerda compensa essa tendência, e a pequena barca de sonho vai numa reta perfeita pelos estreitos canais.

Camadas de verniz preto são aplicadas, mas a ornamentação é limitada desde que um dos doges – espécie de duques soberanos eletivos que governavam a cidade em seus tempos de glória – decretou no século 18 que as gôndolas estavam enfeitadas demais.

É preciso notar que a gôndola era para uso popular e corriqueiro.

Os nobres, eclesiásticos, ricos-homens e pessoas constituídas em dignidade tinham barcos semelhantes, mas muito mais pomposos, com dourados e tapetes flutuantes que acompanhavam seu deslizar sobre as águas.

O mais rico e belo desses navios particulares era o Bucentauro de ouro, destinado aos doges. Ele exigia muitos remadores e levava uma pequena corte e músicos.

Uma réplica navega hoje no Grande Canal nos dias de festa.

Réplica do Bucentauro numa festividade em Veneza
Réplica do Bucentauro numa festividade em Veneza
“Trabalho ao velho estilo. Tudo é feito à mão”, diz Lorenzo Della Toffola, 48, construtor da oficina San Trovaso, que produz uma ou duas embarcações por ano, usando as técnicas do passado.

A arte que cerca as gôndolas deve ser preservada, apesar das mudanças de comportamento, diz Giorgio Orsoni, prefeito de Veneza.

Os gondoleiros precisam possuir uma gôndola para obterem uma licença, e os que não herdam o negócio de seus pais compram, no começo de carreira, um barco usado e só depois financiam um novo.

A família é o veículo da tradição e a propriedade é o fundamento sólido da transmissão cultural.


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